
LOC.: Vítima de uma série de contingenciamentos no decorrer dos anos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) é considerado essencial para o funcionamento de instituições científicas no estado de São Paulo. De acordo com dados da estatal Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que istra o FNDCT, 80 dos 233 projetos concluídos em 2019 que tinham o financiamento do fundo eram de instituições ou empresas situadas no estado paulista, ou seja 34% dos projetos.
Contudo, a verba liberada pelo fundo em 2019 representa menos da metade do que estava previsto no orçamento do ano. A Lei Orçamentária Anual previa que R$ 5,65 bilhões seriam aplicados na ciência e tecnologia brasileiras no ano ado. As aplicações que realmente aconteceram somaram apenas R$ 2 bilhões, o que representa um contingenciamento de mais de 60%. Em 2020, o corte foi ainda maior: 88%.
Em uma tentativa de acabar com essas limitações, cientistas e empresários se uniram em apoio ao Projeto de Lei Complementar (PLP) 135. Aprovada no Senado na última quinta-feira (13), a proposta proíbe que o FNDCT seja contingenciado. Além disso, transforma o fundo contábil em um fundo financeiro. Isso significa que o FNDCT vai poder, por exemplo, aplicar o dinheiro que tem em caixa e ser remunerado pelas aplicações.
O físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), defende que a liberação da verba é essencial tanto para a atividade acadêmica quanto para o desenvolvimento da indústria.
TEC/SONORA: Luiz Davidovich, presidente Academia Brasileira de Ciências (ABC)
“Nós precisamos de startups, de empresas inovadoras. Quem financia isso é o FNDCT. É um absurdo que um fundo criado para financiar pesquisas de interesse da indústria brasileira seja desviado agora para quitar dívida pública.”
LOC.: Em São Paulo, a verba é essencial, por exemplo, para o funcionamento do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), instalado em São José dos Campos. A instituição teve oito projetos financiados pelo FNDCT concluídos no ano ado, em um total de R$ 27 milhões investidos. Vinculado às Forças Armadas, o ITA é a principal faculdade do país a formar engenheiros aeronáuticos e aeroespaciais.
O fundo também ajuda a manter as atividades acadêmicas em outras instituições de ensino superior. A Universidade de São Paulo (USP) finalizou sete projetos financiados pelo FNDCT no ano ado, em um total de R$ 32,5 milhões.
Na sessão que aprovou o projeto no Senado, o Senador Major Olímpio, do PSL de São Paulo, defendeu que o Brasil precisa de mais verba para o desenvolvimento de pesquisas.
TEC/SONORA: Senador Major Olímpio
“Nós já tivemos um contingenciamento em que só R$700 milhões chegaram para a ciência e tecnologia. Estão arrebentando com a ciência e a tecnologia no nosso País! O meu Ministro e meu suplente, Marcos Pontes, está sendo ali sabotado, sem recursos. Já se mostrou isso, no ano ado, com o corte de verbas para as bolsas científicas, de pesquisadores, de cientistas, das melhores cabeças do Brasil”
LOC.: Segundo dados da Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP br), entre 2004 e 2019 o FNDCT apoiou cerca de 11 mil projetos. Entre eles estão as pesquisas, por exemplo, que permitiram a descoberta e a exploração do Pré-Sal. O fundo também foi usado na reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira de pesquisas científicas no Polo Sul.
Agora que o PLP 135 foi aprovado no Senado, ele precisa ser votado na Câmara dos Deputados e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Reportagem, Daniel Marques